O Cesteiro e a Matemática
|
Por Maria
Esmeralda Rodrigues
Os modelos
matemáticos geram imagens desde a pré-história, pelo que se pode observar a
forma como a linguagem matemática está relacionada com a cognição humana e o
processo de elaboração de peças diversas. Através de desenhos, imagens,
gráficos, diagramas e esquemas, verificamos que a nossa perceção visual é
carregada de princípios abstratos, lógicos e matemáticos. Sendo a cestaria uma
prática referente ao da arte, pode-se dizer que esta se relaciona com a
matemática, bem como a esmagadora maioria das artes.
A cestaria é uma atividade
cultural expressada pela composição de cestos a partir de materiais como a
verga, a vime, o junco, a palha, a cana de bambu, a cana-da-índia e outros.
Estes materiais, apresentados em fibras, entrançam-se, formando assim um objeto
comparável a uma teia designado de cesto.
Exemplifiquemos: as aranhas constroem as suas teias começando por fios
retos que se juntam no centro. Em seguida, tecem espirais ao redor desses fios,
que se vão alargando em órbitas cada vez mais amplas. Os cesteiros trabalham de
forma semelhante. Inicialmente, fibras duras (a urdidura) são amarradas num
ponto que será o centro do cesto. Em seguida, fibras flexíveis – a trama – são
trançadas por cima e por baixo da urdidura, de forma rotativa. Em cestos feitos
em caracol, uma fibra resistente, porém flexível, toma o lugar da urdidura reta;
é cosida, ao longo das linhas radiantes, com uma trama fina, com o auxílio de
uma agulha.
Gyorgy Doczi, grande arquiteto escritor de vários livros, afirma que nos
chapéus côncavos podemos encontrar relações como as proporções áureas e nos
chapéus convexos podemos encontrar relações como o Teorema de Pitágoras. Estas
estruturas lógicas podem ser identificadas nos esquemas diagramáticos dos
chapéus trançados, reconstruídas pelo método sinérgico de raios e círculos.
Acontece exatamente o mesmo com os cestos. Estas tramas e urdiduras remetem-nos
às semelhanças e simetrias que sempre procuramos inconscientemente ao observar
qualquer objeto. A grande maioria dos padrões de fitas é produzida com
base nas relações simétricas possíveis nas tecelagens.
Na elaboração dos artefactos, os
indígenas conseguem pré-visualizar a organização das cores antes de elaborar os
desenhos e o resultado pode ser notado a olhos vistos: a combinação, a
tonalidade, a coordenação motora a precisão dos traços. Tudo o que desenvolvem
é baseado em aspetos retirados da natureza, pelo que se observam elementos
matemáticos como o ponto, reta, a contagem, repetição das figuras, simetria,
plano, semirreta, segmento de reta, ponto médio, polígonos de diversos
tamanhos, cada retângulo sendo colocado lado a lado ou um sobre o outro, dando
início das figuras, ângulos formados por duas retas
paralelas com uma transversal, perímetro, diagonais de uma figura ou polígono,
triângulos, quadriláteros, paralelogramos, trapézios, losangos, etc.
Sem comentários:
Enviar um comentário